domingo, 14 de fevereiro de 2021

Live de domingo

 Live de domingo


Passa só neste momento, não vão gravar

Então armo a rede pra assistir

Tem muita coisa acontecendo 

Tem que prestar atenção: 

A árvore principal floriu

Alaranjadas salpicam a copa,

apontando pra cima - 

não era assim, mudou a composição.

Os passarinhos perceberam, se metem entre os galhos

Num movimento variável de agito e repouso

das asas e dos pios.

Tem borboletas amarelas também

Não sei a quantos metros estou de distância

que consigo ver voando borboletas, e amarelas! 

Este é mesmo um momento impressionante.

Tem brisa, coisa rara

Uma cota suficiente pra mim, 

as folhas pouco balançam

(foi só falar que um mensageiro do vento contestou).

Tem céu muito azul, resto pouco de nuvem

Passa um avião, embicado pra cima

O sol satura as cores todas

Primorosa direção de fotografia.

A rede é macia, não esquenta

mas abraça, espreguiça o corpo.

Duas gaivotas no canto da cena 

Coreografam simétricas

Alegorizam o mar, que tomada!

Dá emoção de chorar. 

O pulmão enche, como só nesses dias

Tenho tanto pra fazer

mas é domingo

melhor ficar aqui vivendo. 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Não são parágrafos, são gavetas.

Arrumar meu armário de roupas todo janeiro: seguir o ritual. Em janeiro de 2021, abro as portas, tiro os cabides e parece que desfaço o armário de uma defunta. Roupas sem uso há quase um ano, que serviam àquela pessoa, não sei se a esta; o corpo é o mesmo, mas mudaram as medidas do modo de ser. Alguém morreu, por isso desarrumo seu armário, sem saber quem ocupará seu lugar. E precisa? 

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Parem a moda. Vou usar em 2021 as mesmas roupas de 2019, início de 2020 (como se eu já não fizesse isso com as que completam década). Vou estrear a calça da liquidação do ano retrasado, vermelha, porque me interditaram a inovação por um inverno. Não tem serventia renovar um guarda-roupa que adormeceu por 10 meses e só denuncia a passagem do tempo pelo cheiro de guardado.

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A mãe me deu uma sandália de Natal. A mãe sempre me dá uma sandália, às vezes no aniversário, acho que pra não esquecer o hábito de todo ano os pés crescerem, essa menina está sem sapatos de novo. Fico grata; nos adultos, calçados se gastam, é o chão que cresce neles, os passos os devoram. Mas, arrumando o armário, descobri as sandálias de 2019, intactas, um uso talvez. Olha, mãe! Não lembrava… nem eu. Será que vou conseguir caminhar dois pares de sandálias novas para fazer jus às de 2021? 

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Dispenso presentes este ano. Digo objetos, traquitana. Roupas e sapatos nem pensar; tudo aqui já está demais, e nem consegui desapegar de muitas peças. Aniversário logo vem, e penso o que vou pedir se me perguntarem. Me deem acontecimentos, quando for possível: passeios de graça, uma roda de samba, uma sessão com massoterapeuta. Companhia para caminhadas, sabendo que no meio do caminho vou virar andarilha e não vou mais parar, apenas ir sem sentimento. Um sorvete (pode ser caseiro) numa varanda, uma tarde na rede, uma dança, ou várias. Convite para conhecer um novo café; uma sessão de leitura (você lê pra mim; posso ler pra você também); uma volta no centro do Rio, um dia inteiro; parques, muitas árvores e cheiro de mato. Não me parece que faz sentido outro tipo de presente nessa nossa vida pandêmica arrastando o passado como correntes de amarrar barco, ansiando pelo futuro como quem espera o ônibus sempre atrasado e olha muitas vezes para a esquina, desejando que o ímã do olhar o traga logo, mas sabendo que não adianta nada.

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Maria sempre diz: "quando acaba a arrumação do armário, sobram os restos pra engolir". Maria sabe muito de arrumação e armários, os de bastante gente, por vários anos. E é isso o que acontece de fato - depois de tudo guardado, aquelas sobras incômodas nos franzem a sobrancelha e inquirem: quem devorará a quem? Uns brincos sem par, mas que são lembrança de viagem, um presente que não agradou, fotos de gente avulsa na linha do tempo; objetos sem categoria, não dá para agrupar com nada. Podem também ser uma denúncia de acumulação e apelo ao desapego. Mas me soam mesmo como o lembrete daquilo que não se encaixa e que persegue toda vida: ei, olha só, o espírito organizador é uma ilusão de ótica do controle.

segunda-feira, 30 de março de 2020


Prólogo:

Estou reativando este blog no período de distanciamento social motivado pela pandemia do novo coronavírus. Estamos – nossa geração – vivenciando a morte: dos estrangeiros, dos brasileiros, dos conhecidos, às vezes até dos familiares, quem sabe mesmo a iminência da nossa própria morte? Cientistas e intelectuais têm dito que o mundo como conhecemos está morrendo, que mudanças profundas acontecerão, que nossa vida já mudou, que não somos mais os mesmos. Se não sou mais a mesma, posso então fazer o que nunca admiti fazer, ou que nunca investi realmente em fazer. “Se o mundo fosse acabar, me diz o que você faria?”, pergunta o Moska. Eu vou escrever. Não que vá fazer isso muito bem feito para o meu padrão de exigência, não que seja uma grande epifania e eu vá conseguir tudo o que eu queria, mas vai ser no estilo “escreva qualquer coisa, porque o mundo está acabando mesmo”. Então aí está - partilhemos.

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Cozinhando

Fabiana Esteves Neves - 29/03/2020

A meu favor, devo dizer que não sou uma burguesinha total, sim, eu já cozinhava antes do distanciamento social, mas sem regularidade, afinal, a correria da vida, muito trabalho... (a justificativa já confirma o que se tenta negar, como se vê).


Enfim, cozinhando agora sistematicamente e de forma concentrada, porque estou conseguindo reservar um tempo só para isso, descobri nesta manhã de domingo a multiplicidade de sentidos que o cozinhar mobiliza: o tato, a visão (para quem vê) e o paladar são mais óbvios; menos evidente para mim era a audição, e menos ainda o olfato. O som de uma panela chiando era assustador, sinal de que algo está queimando, erro supremo! - acompanhado do cheiro de queimado. Fui dourar cebola para cozinhar frango, como já tinha feito outras vezes, e tive que controlar a ansiedade com o som do tempero “pegando” (calma, é assim mesmo...). Aí me surpreendi com o cheiro, não mais com ser um cheiro de queimado, mas com reconhecê-lo. Minha memória olfativa é canina, tanto aguçada quanto fiel; ela traz de volta cenários nítidos. Dessa vez, o aroma me lembrou o que sentia nas tardes de estudante, em casa, quando minha mãe ou Luiza cozinhavam, e eu no quarto era distraída por aquele mesmo cheiro de queimado. Eu estudava, apenas, alheia ao mundo real das panelas; mas aprendia a reconhecer o cheiro do tempero pronto. Hoje isso foi útil.

Tem gente que diz cozinhar sem provar a comida. Acho impossível. Só pelo olho ou pelo nariz não consigo saber se atingi o objetivo. Saber, aliás, é irmão de sabor – em Portugal é comum esse uso do verbo saber: “esta comida me soube muito bem”, para dizer que achei a comida saborosa. Para nós é um uso tão diferente, mas, eu digo, é tão poético. Eu fiz a comida, provei, e ela me soube muito bem: ela tem o gosto bom que eu lhe imprimi, então ela me entendeu, leu meus saberes, conheceu o que eu gostaria de sentir com o paladar. Ela também me saboreou, por isso me soube bem.

Vejo que minha relação com a escrita é igual à relação com a cozinha: a razão para não fazer é sempre a falta de tempo; escrever e cozinhar requerem conclusão, uma tarefa a ser terminada, e sou muito dispersiva; no fundo, acho que ver algo pronto – a comida ou o texto – leva a um vazio, ou a uma dúvida; se por um lado vou aproveitar aquilo que fiz, por outro sei que terei que fazer de novo, mais uma vez, todo dia, que assumi um compromisso ao terminar (um compromisso com o desejo e a saciedade), e que da próxima vez terá que ficar melhor.

Na cozinha e na escrita, o corpo importa tanto. Cozinhar pede movimento, amplo ou fino, idas e vindas; depois de um tempo, a coluna queima, os pés pesam. Mas o movimento do corpo faz a imaginação se mover também. Tenho um corpo inquieto, que cala a mente quando precisa ficar parado; então, sentar diante do computador para escrever é o primeiro passo para fazer dar errado. Cozinhando hoje, me mexendo entre a pia e o fogão, as ideias vieram rápidas, quase caíram na panela. Tive que largar tudo lá, vir anotar. Quando voltava, mais ideias pulavam, como a sopa de beterraba no fogo, quase me queimavam. Gravei áudio, para facilitar. É tudo processo, cozinhar e escrever, deve estar aí a identidade. É tudo sentido e saber.

Então, como quem cozinha, vou cumprir também essa tarefa de escrever. Cansativas as duas, mas mais assustadoras de fora do que de dentro; dois fazeres que trazem dores e prazeres antes e durante, mas sabor no final. Dois processos de se pôr à prova, o corpo todo, para no final degustar – é o mesmo que se conhecer.

Quem não se sabe não consegue escrever.  


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Abashiri e Kiyosato: oitavo dia de viagem, 27 de junho, sexta-feira

Abashiri e Kiyosato: oitavo dia de viagem, 27 de junho, sexta-feira

O dia começou muito bem: Midori foi nos encontrar no hotel em Abashiri. 18 anos distante e nada mudou, ela continua a mesma figura! (e eu também :-P ) Mas ela não foi sozinha... levou uma fofíssima bonequinha que fala: Rio, de 4 anos, a filha mais nova. O nome dela é esse mesmo (pronuncia-se com r de "para" e sílaba forte no "o", fechado); é um nome japonês que significa um tipo de flor, mas foi escolhido também em lembrança à cidade do Rio de Janeiro! De início a boneca ficou tímida, pois ainda não conhecia aquela gente estranha, que éramos nós; achei até que era superquietinha (conclusão precipitada rs ;-) Mas tínhamos tempo para nos conhecer...

Em Abashiri, visitamos o museu da prisão, uma antiga cadeia-fazenda que funcionou ali no final do século XIX e início do século XX. Foram reconstituídos os prédios e montadas as cenas da rotina na prisão, com bonecos para representar os presos. É uma visita interessante, embora, de fato, seja estranho ver assim uma situação tão triste; para o visitante interagir com a exposição, é possível até pôr um modelo da roupa antiga dos presos e deitar em uma cama semelhante à que eles usavam. Considerando que as condições de vida eram terríveis (lá faz um frio de 20 graus negativos no inverno) e que muitas pessoas morreram ali, realmente não é confortável que o lugar tenha virado atração turística. Mas o espaço natural é lindo e muito bem cuidado (infelizmente, fotos só na câmera). Finalmente apareceu o céu azul do Japão!

Depois, almoçamos em um restaurante muito agradável, com uma vista linda para o mar e o cais de onde, no inverno, saem barcos turísticos para ver os blocos de gelo que vêm da Rússia. Dali, antes de irmos para Kiyosato-cho, paramos no supermercado para Midori fazer compras. Esse momento do dia é digno de nota porque o mercado já é uma atração: tantas coisas diferentes, que não dá mesmo para saber saber o que são, cores variadas, formatos exóticos, tudo muito arrumado e limpo. Foi uma diversão fazer compras! rs Fiz muitas fotos, mas na câmera... Duas coisas a notar: os carrinhos de compras não são enormes como no Brasil (acho que as pessoas não fazem tanto compras grandes); e as seções de açougue e padaria são mínimas, se comparadas às do Brasil - em compensação, a seção de peixaria... é bem maior e mais variada. 

No final da tarde, chegamos a Kiyosato-cho e à casa de Midori. É uma cidade rural, com grandes plantações, não só de arroz, mas também de outros alimentos (agora não lembro quais). Aproveitei para descansar um pouco e conhecer a vida em família no Japão. Minha nova amiga, Rio, começou a ficar mais à vontade e se enturmar, pulando na pilha de futons (cama japonesa) e edredons no nosso quarto. Termino então esta postagem com uma foto da minha linda boneca japonesa - admirem :-)


sexta-feira, 4 de julho de 2014

Ida para Sapporo, província de Hokkaido: sétimo dia de viagem, 26 de junho, quinta-feira

Lição aprendida nas férias: descansar também cansa. Na última noite em Tóquio, dormi supertarde, tipo 1h, lavando roupa e arrumando as tralhas. Aí, no dia de ir embora de Tóquio, acordamos cedíssimo, umas 4h30; um cadinho puxado, neeeeé? Pegamos o trem na própria estação de Shinjuku, direto para o aeroporto de Narita. Fica um aprendizado: é bem útil marcar todas as passagens de trem do JR Pass logo na chegada ao Japão, como li neste blog ); porém (pelo menos pra mim), é difícil fazer todas as previsões em termos de distância entre estações (e quantidade de energia a ser gasta). Então, é mesmo no local que dá pra decidir como fazer: tínhamos reservado essa passagem saindo da estação Tóquio, mas era mais fácil sair de Shinjuku mesmo, pra não mudar de trem com as malas; bom é que é sempre fácil trocar, e assim fizemos.  

No aeroporto, viajamos de Jet Star, empresa barata, mas boa: é do tipo que não serve nada, vende todo o lanche,  mas o avião é legal. Só que a mala tem que pesar exatos 20kg; como tanto a minha quanto a da minha amiga estavam com um tiquinho a mais que isso, o atendente mandou transferir coisas pra bagagem de mão (que precisa ter 7kg). 

Mas faltou explicar: para onde exatamente estávamos indo? No mapa mais abaixo, você pode ver a província norte do Japão, Hokkaido: no inverno (estamos no verão), é o lugar onde faz mais frio. É também a região mais rural do país (se não estou enganada), com destaque para a criação de gado e cavalos e a preservação de grandes espaços naturais. E por que eu inventei de ir para lá? Nas outras duas viagens internacionais que fiz (Canadá e Espanha/Inglaterra), só depois de tudo pronto fui me dar conta de que estava indo para conhecer países, sim, mas a motivação tinha sido encontrar pessoas, que moravam no lugar ou que estavam por lá. Acho que viagem para mim passa necessariamente pelos viajantes, para ter alma, corpo, interação e não ser apenas mera observação distante. Desta vez, não está sendo diferente: fui tão longe para encontrar uma das minhas amigas-bonecas-inteligentes, Midori, japonesa da gema. 

Este é um caso muito bem-sucedido de amizade à distância: a gente se conheceu no meu primeiro ano de faculdade, 1995 (ui!), quando  ela, que era estudante de português da Universidade de Kioto, foi fazer intercâmbio de 1 ano na UFF. Eu e minha amiga Sonia, que sempre gostamos de estrangeiros, grudamos nela e na outra japonesa, Norie. Mas a amizade que ficou foi com Midori, uma figurinha muito divertida e gente boa. Minha família inteira gostou dela, quando viajou conosco nas férias de 96, antes de voltar para o Japão. Posso dizer também que ela me ajudou em parte da minha escolha profissional, porque foi informalmente minha primeira aluna de português para estrangeiros - me diverti muito ensinando um monte de expressões idiomáticas pra ela, que fazia aquela maravilhosa expressão japonesa de espanto: ooooooohhhh :-O (alguém já viu um japa de olho arregalado? É ótimo! rs). Pois bem, desde que ela voltou, há quase 20 anos, temos nos correspondido e feito contrabando de guloseimas pelo correio (ela adora Fandangos, pode?!). Acompanhei  seu casamento, o nascimento dos 3 filhos e a mudança para Hokkaido - e esse é o motivo de vir tão longe.  Tão longe mesmo: ela está morando em Kiyosato, quase no fim do mundo: olha o mapa! É praticamente na Sibéria!


Voltando à viagem: chegando a Sapporo, deixamos as malas nos lockers (armários com chaves) do aeroporto, para ir dar uma volta na cidade, que é a capital da província de Hokkaido, e pegar o trem para Abashiri às 17h30. Erro de cálculo: a cidade não é tão perto do aeroporto (mais de 30 min) e o trem da tarde saía de Sapporo mesmo. Ou seja: fomos passear, voltamos ao aeroporto pra buscar as malas e novamente seguimos pra Sapporo. Enfim, pelo menos as passagens estavam incluídas no JR Pass...

Não deu para ver muito da cidade, mas a impressão foi ótima: é uma capital japonesa - leia-se bem desenvolvida e organizada - mas mais calma que Tóquio (de alguma forma, lembra a atmosfera de Aracaju, ou Curitiba). Passeamos em um pequeno espaço do Parque Odori, uns jardins lindos no meio da cidade. Era um típico dia de verão japonês: gente pegando sol na grama, crianças tomando banho no chafariz (pareceu supernormal aqui), idosos passeando, barracas de uma feirinha. E canteiros muitíssimo bem cuidados por voluntários, como vimos depois. Sente o clima: 




Inevitável lembrar novamente do vô Chico, por todas aquelas flores, plantas e por uma exposição de orquídeas que estava acontecendo. Fizemos muitas fotos por lá e, para almoçar, compramos comida em uma das barraquinhas. Escolhi bolinho frito de feijão e yakisoba (isso aí vermelho é gengibre colorido): 


Foi uma tarde muito agradável. Assim, depois daquela manobra que contei antes, pegamos o trem para Abashiri, cidade que fica a 1h de Kiyosato, para dormirmos lá. Já sabíamos que a viagem iria das 17h30 às quase 23h, mas, na prática... A sensação era de que a cidade estava chegando mais pra lá, ou de que o fim do mundo estava próximo: o trem esvaziando, as estações se tornando menores e mais simples, e nós lá... Por fim, saltamos em uma beira de estrada tipo de filme, com um mercado 24h ao lado e nin-guém na rua. Ah, tamos no Japão, tudo bem! Mas é aquela história, se antes a comunicação já estava complicada, agora ferrou, é só japonês e mímica! O hotel era logo em frente - e um senhorzinho, já avisado de que chegaríamos tarde, nos recebeu muito bem (dentro do que foi possível comunicar). Tínhamos escolhido um quarto típico japonês, deu pra entrar no espírito. Depois dessa coça de dia de viagem, só um sono japonês mesmo... -_-

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Sexto dia e último dia em Tóquio: 25 de junho, quarta-feira

Este foi o ultimo dia em Tóquio, e a vontade de ir embora era bem pouca; ainda tanto pra ver e viver... No metrô, mais um pouquinho de observação: no cartaz abaixo, menção à Marubeni, empresa com que meu pai tem contato no trabalho (e uma das únicas informações que entendi :P ). 


Nesta foto das pessoas indo trabalhar, um exemplo de algo que vem se tornando bem comum aqui, segundo me contaram: estrangeiros que vêm morar e trabalhar (pelo modo de vestir e de agir no metrô, dá pra perceber que não são turistas).


Outras imagens interessantes: aqui muitos homens usam bolsas que, no Brasil, podem ser consideradas "de mulher"; achei chique e moderno.


Não parece personagem de desenho?


Olha o estilo dos rapazes (e a bolsa também).


Na saída do metrô, no bairro de Marunochi (cheio de prédios de grandes empresas), um mapa - e, novamente, só as proibições estão em inglês. Leia-se: "você não precisa sair do lugar, fique aí e apenas não faça bobagem". 


Andando mais um pouco, "museu das comunicações" - ah, então está aí a explicação... enfiaram as comunicação no museu, por isso que não dá para entender nada... :-P (desculpem se estou ficando rabugenta... mas a incomunicabilidade quase total também é uma experiência muito nova para mim, então estou tentando elaborar). 


Saímos à procura dos jardins do Palácio Imperial, logo ao lado, em Chyioda. Só é possível visitar o palácio em dois dias do ano, que são o Ano Novo e o aniversário do imperador; portanto, a ideia era ver o entorno e os jardins mesmo. Chegamos a uma das pontas, mais um jardim amplo e lindo na cidade - e aqui vai uma foto em homenagem ao meu amigo fotógrafo Alex Gaudêncio, o mestre dos reflexos: 


Entrando nos jardins, minha amiga descobriu um casal de paulistas. Conversamos um pouco e pedimos dicas de passeios; eles sugeriram que fizéssemos um tour em um ônibus aberto em cima, daqueles bem comuns em cidades turísticas, e que visitássemos o Teatro Kabuki-za. Assim, deixamos para ver o palácio depois, durante o tour, e fomos comprar a passagem no prédio da Mitsubishi. No caminho, outra foto-clichê-de-Tóquio, "o antigo X o moderno":


O tour foi muito legal, com passagem por partes bem modernas da cidade, como viadutos, pontes, vias expressas (mas só fiz fotos com a câmera). Porém, descobri que não haveria rota para o palácio, uma pena. Enfim, descemos no teatro Kabuki-za, em que há peças o dia todo, no estilo Kabuki, teatro tradicional japonês. A fachada já é uma atração:


É possível comprar entrada para ver apenas um pedaço da peça, se você aceitar ficar em pé, lá no fundo do teatro (a sala de espetáculos é enorme e altíssima, uns três ou quatro andares). Foi o que fizemos, pois a peça inteira durava em torno de três horas. Porém, me arrependi, pois gostei da experiência. Havia fones de ouvido com explicações em inglês, então eu poderia entender a história. E a movimentação dos personagens, os figurinos, as situações engraçadas me deram vontade de ver o espetáculo todo. Quem sabe quando estiver em Yokohama, que é perto, eu volte aqui...

Depois, fomos esperar o ônibus para continuar o tour. Paramos ao lado dessa sequência de bicicletas - alguém está vendo cadeado aí? 


O ônibus demorou, por causa da chuva. Quando chegou, a mocinha informou (via Google Translator!) que o passeio talvez fosse cancelado, por causa dos relâmpagos. Saltamos no prédio da Mitsubishi e fomos esperar a resolução da empresa dando uma volta pela área; atenção ao meu modelito japonês: saia, legging e tênis, com e casaco (que belezura :-P ).


Depois de muito procurar um restaurante, entre tantas opções, acabamos num indiano, bem bonito. Prato vegetariano muito bom, mas com muita pimenta (para mim)... 


Realmente, o tour foi cancelado :-( Como não estaríamos em Tóquio no dia seguinte, devolveram nosso dinheiro (todo!). A parada seguinte foi o bairro de Akihaabara, distrito de eletrônicos e bugigangas, o Saara do Japão. Muitas lojas entulhadas, letreiros estranhos, muita gente andando. 


Esse lugar também é famoso pelas figuras exóticas que andam fantasiadas; fiz umas fotos com a câmera. Existe também um serviço, digamos, "exótico" (mas acho que não tem a ver com prostituição, antes que façam a inferência): umas meninas bem jovens se vestem de "empregadas" e, segundo cartazes, servem de garçonetes particulares, algo assim. Elas ficavam distribuindo folhetos na rua e, quando tentávamos fotografá-las, se viravam rapidamente, eram espertas. Uma foto em que as roupas lembram as delas - mas que coisa estranha, né... melhor nem saber o que é :-P 


Em seguida, fizemos uma caminhada longa em busca da Universidade da ONU e, depois, da Embaixada do Brasil, pelas ruas de Shibuya. Havia muitos prédios grandes e esculturas estranhas. 




Custamos a achar a embaixada do Brasil, escondida em uma ruazinha transversal. No caminho, canteiros arrumadinhos à beira de uma avenida larga:


Para encerrar o dia como comecei, cenas no metrô: o estilo do moço e a escada rolante-caleidoscópio:



domingo, 29 de junho de 2014

Quinto dia em Tóquio: 24 de junho, terça-feira

O programa do dia foi o parque Ueno, que é enorme, com museus, templos e zoológico. Mas a primeira atração é sempre o metrô: podem me chamar de cara de pau, mas onde mais eu vou encontrar alguém assim andando pela rua? (atenção ao detalhe do fone de ouvido ;) )


Bom, o castigo vem a galope: fiquei tão entretida com flagras, ainda mostrando as fotos pra minha amiga, que passamos umas quatro estações :P Voltamos então para a estação Ueno, que é bem grande e tem estilo mais antigo: 


Aqui, algumas cenas do caminho: 



 O Ueno coen (parque) é um lindo espaço verde, bom para caminhadas, corridas, passeios de bicicleta e mesmo almoço no estilo japonês, com marmita. Fiz poucas fotos com o tablet e mais com a câmera. Esta mostra o Museu Nacional de Tóquio. 


Como dá pra ver, o tempo estava bem fechado, tanto que, quando saímos de lá, chovia e relampejava (aqui parece comum temporal com relâmpagos no meio da tarde). Sobre o museu: ele é gigante também, na verdade um complexo com 3 ou 4 museus. Fomos apenas ao principal, que mostra pintura, escultura, estatuária budista, caligrafia e um pouco da história das diversas eras do Japão. O prédio também é bonito, com escadarias imponentes, mas achei todo o museu (incluindo as obras) mais simples que alguns que já visitei. Quando digo simples, quero dizer mais despojado, menos rebuscado; gosto disso. É uma arte que transmite suavidade e cria uma atmosfera serena, mais propícia à contemplação e à introspecção. 

Mesmo com chuva e trovões, na saída tentamos ir ao Museu de ciência e tecnologia, ao lado, mas estava fechado para manutenção. Nisso já eram mais de 16h e a fome estava grande; decidimos então procurar um restaurante indicado pelo GuideWithMe, Okina An, especializado em soba (um tipo de macarrão). É um restaurante antigo, que conserva o estilo. Mesmo com mapa e ajuda em inglês, andamos muito na chuva pra achar; isso é que enfraquece as férias :p Acabei parando um senhorzinho na rua pra perguntar, e ele nos levou até lá! (mas também entrou e almoçou, pelo menos). A comida estava muito boa! Sopinha quente caiu superbem no tempo chuvoso...



Depois de um café no Starbucks da estação (detalhe: não tinha wi-fi), resolvemos descobrir a Universidade de Tóquio. Como já chegamos lá no final do dia, só deu para fazer fotos com a câmera e, assim mesmo, mal. Alguns detalhes interessantes que percebi: os prédios têm estilo antigo, sóbrio, mas são muito bem conservados e modernos por dentro; havia montes de bicicletas estacionadas em um local próprio, e várias pessoas passaram por nós de bicicleta, com cara de alunos e de professores; o ambiente exterior era calmo e silencioso, mas havia muitas salas acesas; chegamos a ver algo que parecia ser uma aula terminando: um homem mais velho, de blazer, se despediu, e os jovens se levantaram, depois saíram. Conseguimos entrar na portaria de um prédio de economia e ver uma sala em que um pessoal pesquisava no computador; depois, entramos no prédio de Estudos Internacionais - em que as placas eram escritas em japonês, vai entender... Foi pouco tempo na universidade, e já no escuro, mas deu pra gostar. 

Na volta, fotos no metrô - desculpem, mas fiquei viciada nisso. Deixo claro que a intenção não é rir de ninguém, mas apenas fazer o exercício de observar o diferente e incluí-lo na minha percepção. Algumas amostras:


Este é o suporte para bolsas: você não precisa ocupar as mãos nem atrapalhar outros passageiros, basta pôr sua tralha ali em cima (claro, ninguém mexe).


Já chegamos tarde e ainda resolvemos jantar. Rodamos diversos restaurantes perto  do hotel, mas nenhum tinha menu em inglês. Por fim, acabamos em um no qual o prato era escolhido e pago em uma máquina (já disse que aqui há máquinas em todos os cantos? De bebidas, de comidas, de qualquer coisa). Só que... tcharam! Acertou, todas as opções estavam em japonês. Então, apelamos pra dois gringos, meio ruivos, meio louros, que estavam no balcão e pedimos o mesmo que eles: lámen (aqui se diz "rámen", com r de "para") com carne de porco. Rolou um certo medinho de comer isso quase às 23h, mas a barriga ficou satisfeita e tudo resultou bem (puxa, eu sou gulosa mesmo, admito...).